quarta-feira, 5 de junho de 2013

Paulo Freire


Educação como prática da Liberdade.

Abordaremos aqui reflexões singulares da obra "Educação como prática da Liberdade", a qual Paulo Freire fala a respeito do “Método de Alfabetização de Adultos” de maneira detalhada dentro de um meio sócio-político no Brasil na década de 1960.

Esta obra foi uma de seus primeiros ensaios, não se pode entendê-la e nem submetê-la a críticas sem atrelá-la ao contexto brasileiro entre os anos de 1960 e 1964.

Paulo Freire faz um julgamento à educação tradicional no Brasil

A educação na visão de Paulo Freire deve acontecer como prática da liberdade. Os caminhos da liberdade criam sujeitos livres e a prática da liberdade oportuniza a pedagogia em que o oprimido tenha condições de conquistar-se e descobrir-se como sujeito de sua própria destinação histórica.

 Quando pensamos em educação popular, aparecem em nossa mente as ideias de Paulo Freire,  afinal, ele se dedicou por uma educação para a vida, por meio das ações pedagógicas pautada na formação de um individuo participativo  na sociedade critico e criativo. Percebemos que é relevante observar que o sujeito nesta educação é um individuo que não deve apenas  "estar no mundo, mas com o mundo", ou seja, fazer parte desta grande esfera, não apenas vivendo, mas participando na construção de sua própria identidade contribuindo para o melhoramento de suas condições como cidadão e buscando o direito de construir uma sociedade justa e igualitária.

A melhor forma de ensinar, segundo Paulo Freire, é defender com o compromisso e amor, uma posição respeitando e estimulando o direito da contrariedade do ser educando. Ensinando assim o dever de lutar por suas próprias ideias.

Para Freire, o principal problema do homem não era ser alfabetizado, mas sim fazer com que enquanto individuo ele assumisse sua dignidade. E desta maneira defender sua própria cultura com a capacidade de fazer história e dominar os instrumentos, como a leitura,  capazes de modificar esta condição.

Nesta obra Paulo Freire reconhece no Brasil da época – e digamos atual - uma  ‘sociedade fechada” e uma “sociedade aberta”. Diferente uma da outra, a segunda com espaço para opiniões, buscando uma cultura livre, enquanto a primeira não permitia crítica ou diálogo a respeito de mudanças. Havia ainda uma “sociedade de transição”, com  uma consciência transitiva em processo de libertação.

O modelo pedagógico neste ensaio de Paulo Freire aproxima a educação como ação cultural de conscientização, envolvendo técnicas alfabetizadoras que são adaptadas para melhorar  projetos onde a situação de aprendizagem envolve uma situação de conflito social.

Neste modelo apresenta-se uma educação construída na base do diálogo entre educador e educando, um completando o outro, sem que o educador imponha seu modelo de ensino que segue apenas o material oferecido por ele em suas aulas. Neste novo conceito, o novo modelo fundamenta-se na ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho, palavras de Paulo Freire.

O processo de ensino e aprendizagem consiste em uma relação horizontal e não vertical entre educador e educando. No pensamento de Paulo Freire a relação homem-homem, mulher-mulher e homem-mundo não são separáveis. Este processo valoriza o saber de todos. E o educador não fica limitado ao saber do aluno, tendo como desafio ultrapassá-lo.

Paulo Freire revela uma linguagem político-pedagógica, completamente progressista e renovadora para a época. Ele ressalta o valor dos “conteúdos programáticos” que precisam ser escolhidos democraticamente, inserido em uma proposta mais ampla de educar. Em contraposição ao modelo tradicional escolar o autor comprova que os métodos em que os alunos e professores aprendem juntos são mais eficazes.

É muito importante ressaltar o conceito de dialogo no pensamento de Freire. O diálogo tem como conclusão  o conhecimento sobre o objeto em questão. Declara ser impossível haver um dialogo  sobre o que não se conheça.

O autor aborda uma questão muito original em relação a práxis educativa, não como algo que é depositado por quem sabe sobre quem não sabe, mas sim conscientizar o indivíduo de sua realidade vivenciada para  terem capacidade de transformá-la.

A pedagogia proposta por Paulo Freire tem como objetivo um ensino baseado no diálogo, na liberdade e na atividade de buscar o conhecimento, transformador e participativo.

É uma educação disposta a considerar o indivíduo como sujeito de sua própria aprendizagem e não um objeto sem resposta e sem saber. Deve ser valorizado o contexto social do educando bem como seus conhecimentos prévios e sua forma de enxergar o mundo.

A transformação começa a partir do próprio educador e prossegue no repasse ao educando até chegar à transformação coletiva. Em um nível intermediário, a experiência precisa buscar outros sujeitos de histórias similares que vivem a mesma experiência de libertação.

O sentido maior do compromisso é fazer-se sujeito e liberta-se participando de uma prática humanística. Para ser sujeito é preciso desprender-se das próprias amarras e ousar voar para a liberdade. A conquista da liberdade exige uma constante busca para que se possa superar a opressão e conduzir o destino de seus atos.

Segundo Freire, o ensino não é apenas uma profissão  mas uma missão que necessita  saberes comprovados em seu processo dinâmico de promoção da autonomia do ser  de todos os alunos.

As ideias disseminadas nesta obra são formadas a partir das diretrizes de mudanças na experiência de homens e mulheres que puderam sentir a liberdade ao mesmo tempo em que conquistavam o ato de leitura na escolaridade tardia.

Nas reflexões de Paulo Freire, tanto os alunos quanto o professor são transformados em pesquisadores críticos. Os alunos não são uma lata vazia para ser cheia pelo professor.

A liberdade é o ponto principal do seu conceito educativo e o ponto final da educação centra-se na libertação. Assim, forma-se a visão ideológica da sociedade e da função da educação. A educação deve permitir uma leitura crítica do mundo.  

Afinal, o mundo que nos cerca é um mundo inacabado e isso implica na denúncia da realidade opressora, portanto o anúncio de outra realidade. A utopia estimula a busca. Ao denunciar a realidade vivida teremos em mente a conquista de outra realidade, uma realidade desejada, sonhada. 

Com toda a certeza, Paulo Freire foi um educador militante e humanista que buscou mostrar na sociedade a função da educação do ponto de vista do oprimido, na construção de uma sociedade democrática ou sociedade aberta.

Paulo Freire entende que é possível engajar a educação nesse processo de conscientização e de movimento de massas.

Neste livro ele desenvolve o conceito de "consciência transitiva crítica", ou uma consciência articulada na prática. Segundo ele, para se chegar a esta consciência, ao mesmo tempo desafiante e transformadora, são indispensáveis o diálogo com postura filosófica crítica e a convivência.



A pedagogia de Paulo Freire está fundamentada em um projeto de libertação dos oprimidos. Subsidiado por decisões de atitudes filosóficas claras e definidas. O autor  tem como proposta  uma metodologia de ação. A partir de cada experiência há uma preocupação de elaboração teórica, mas não a construção de um sistema Os conceitos de Freire não  uma obra sistemática, mas estabelecem situações que conduzem sua proposta pedagógica.






 "Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo,
torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se
a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda."

Paulo Freire


Imagens e frases disponíveis em : www.projetomemoria.art.br, acesso em 05/06/2013








CRONOLOGIA

1921 
Paulo Freire nasce em Recife, no dia 19 de setembro.


1927 

Entra, já alfabetizado, para a escolinha particular da professora Eunice Vasconcelos.


1931 

Mudança para Jaboatão dos Guararapes/PE.



1934 

Morte do pai quando Paulo tinha 13 anos. 



1937 a 1942 

Cursa o Ensino Secundário no Colégio Osvaldo Cruz, do Recife, onde teve seu primeiro emprego, tornando-se, em 1942, professor de língua portuguesa do mesmo. 


1943 

Ingressa na Faculdade de Direito do Recife.


1947 

Forma-se Bacharel em Direito.


1944 

Casa-se com Elza Maia Costa de Oliveira.


1947 

Assume a Diretoria da Divisão de Educação e Cultura, do Sesi-Pernambuco.


1952 

Nomeado Professor Catedrático da Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Recife.


1954 

Foi nomeado Diretor Superintendente do Departamento Regional de Pernambuco do SESI-PE, cargo que ocupou até outubro de 1956.


1960 

Defende tese e obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.



1961 

Foi-lhe conferido o título de Livre Docente da Faculdade de Belas Artes. Tendo perdido o cargo de docente desta Escola, foi nomeado Professor Assistente de Ensino Superior, de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Recife.


1962 

Cria e foi o primeiro Diretor do Serviço de Extensão Cultural, da Universidade do Recife.


1963 

Realiza a Experiência de Alfabetização de Angicos/RN. Cria as bases do Programa Nacional de Alfabetização, do Governo João Goulart.


1964 

Golpe Militar extingue o Programa Nacional de Alfabetização.
Prisão no Recife.
Asilo na Embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro.
Em setembro parte para a Bolívia.
Em novembro segue para o Chile.


1965 

Publica o livro Educação Como Prática da Liberdade.


1967 a 1968 

Escreve no Chile o livro Pedagogia do Oprimido.


1969 

Muda-se para Cambridge, Massachussetts, USA.


1970 

Transfere-se para Genebra, Suíça, para trabalhar no Conselho Mundial das Igrejas, passa a “andarilhar” pelos cinco continentes.


1971 

Funda, com outros exilados, o Instituto de Ação Cultural (IDAC), em Genebra. dedica-se de modo especial ao trabalho de educação em alguns países africanos.


1979 

Obtém seu primeiro passaporte e visita São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.


1980 

Retorna ao Brasil, para lecionar na PUC/SP e na Unicamp.


1981 

Participa da fundação do Vereda - Centro de Estudos em Educação, em São Paulo.


1982 

Publica A importância do ato de ler em três artigos que se completam, livro que mereceu, em julho de 1990, o “Diploma de Mérito Internacional”, concedido pela “International Reading Assocition”, na Suécia.
Deste ano até 1992, escreve os “livros falados”, isto é, livros nos quais, estimulado por outros educadores, narrava a sua vida e explicitava as suas reflexões.


1986 

Recebe o Prêmio UNESCO da Educação para a Paz.
No dia 24 de outubro morre sua primeira esposa, Elza Maia Costa de Oliveira. 


1987 

Passa a integrar o júri internacional da UNESCO, que escolhe e premia as melhores experiências de alfabetização do mundo.



1988 

No dia 27 de março, casa-se em cerimônia religiosa, no Recife, com Ana Maria Araújo Hasche e, em 19 de agosto, em cerimônia civil, quando ela passa a assinar Freire.



1989 

Assume o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo.



1991 

Afasta-se da SMEd-SP para escrever livros. Retorna a lecionar na PUC/SP. Demite-se da UNICAMP.



1988 a 1997 

Volta depois de 10 anos a escrever livros autorais: Pedagogia da Esperança. Cartas a Cristina: reflexões sobre a minha vida e minha práxis. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Política e educação. À sombra desta mangueira e Pedagogia da Autonomia, além de outros com diversos educadores. e inúmeros artigos e conferências. 



1997 

Faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 02 de maio, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Deixou 5 filhos e viúva.


Paulo Freire participou durante a sua vida de fóruns e debates. Realizou milhares de palestras e conferências. Deu pareceres sobre os mais diversos assuntos. Concedeu entrevistas para jornais, revistas e televisão. Envolveu-se nos movimentos sociais progressistas, entre muitas outras atividades como militante e como intelectual. Recebeu prêmios, títulos e homenagens em todo o mundo, entre estas 39 títulos de Doutor HonorisCausa, dos quais 5 entregues à sua viúva.

A partir de 2000, a sua viúva Ana Maria Araújo Freire, na qualidade de sucessora legal da obra de Paulo Freire, organizou seus textos inéditos, nomeou-os e publicou na “Série Paulo Freire”, da qual é diretora: Pedagogia da Indignação, Pedagogia dos Sonhos Possíveis e Pedagogia da Tolerância.













Principais obras

1959: Educação e atualidade brasileira. Recife: Universidade Federal do Recife, 139p. (tese de concurso público para a cadeira de História e Filosofia da Educação de Belas Artes de Pernambuco).

1961: A propósito de uma administração. Recife: Imprensa Universitária,.

1963: Alfabetização e conscientização. Porto Alegre: Editora Emma.

1967: Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco C. Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (19 ed., 1989)

1968: Educação e conscientização: extencionismo rural. Cuernavaca (México): CIDOC/Cuaderno 25)

1970: Pedagogia do oprimido. New York: Herder & Herder, 1970 (manuscrito em português de 1968). Publicado com Prefácio de Ernani Maria Fiori. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p., (23 ed., 1994)

1971: Extensão ou comunicação?. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971.

1976: Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Tradução de Claudia Schilling, Buenos Aires: Tierra Nueva, 1975. Publicado também no Rio de Janeiro, Paz e terra. (8. ed., 1987).

1977: Cartas à Guiné-Bissau. Registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (4 ed., 1984).

1978: Os cristãos e a libertação dos oprimidos. Lisboa: Edições BASE.

1979: Consciência e história: a práxis educativa de Paulo Freire (antologia). São Paulo: Loyola.

1979: Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra

1979: Multinacionais e trabalhadores no Brasil. São Paulo: Brasiliense.

1980: Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes.

1981: Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

1982: A importância do ato de ler (em três artigos que se completam). Prefácio de Antonio Joaquim Severino. São Paulo: Cortez/ Autores Associados. (26. ed., 1991).

1982: Sobre educação (Diálogos), Vol. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra ( 3 ed., 1984), (Educação e comunicação, 9).

1982: Educação popular. Lins (SP): Todos Irmãos.

1985: Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª Edição

1986: Fazer escola conhecendo a vida. Papirus.

1987: Aprendendo com a própria história (com Sérgio Guimarães). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 168 p. (Educação e Comunicação; v.19).

1988: Na escola que fazemos: uma reflexão interdisciplinar em educação popular. Vozes.
1989: Que fazer: teoria e prática em educação popular. Vozes.

1990: Conversando com educadores. Montevideo (Uruguai): Roca Viva.

1990: Alfabetização - Leitura do mundo, leitura da palavra (com Donaldo Macedo). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

1991: A educação na cidade. São Paulo: Cortez.

1991: A Importância do Ato de Ler - em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora & Autores Associados, 1991. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v 4)

1992: Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994)

1993: Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (6 ed. 1995)

1993: Política e educação: ensaios. São Paulo: Cortez.

1994: Essa escola chamada vida. São Paulo: Ática, 1985; 8ª edição.

1995: À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d'água.

1995: Pedagogia: diálogo e conflito. São Paulo: Editora Cortez.

1996: Medo e ousadia. Prefácio de Ana Maria Saul; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; 5ª Edição.

1996: Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

2000: Pedagogia da indignação – cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP.

2003: A África ensinando a gente (com Sérgio Guimarães). Rio de Janeiro: Paz e Terra.





Grupo 

Hadassa  Melo de Almeida
Janiele Santos Pereira



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