Educação como prática da Liberdade.
Abordaremos aqui reflexões singulares da obra "Educação como prática da Liberdade", a qual Paulo Freire fala a respeito do “Método de Alfabetização de Adultos” de maneira detalhada dentro de um meio sócio-político no Brasil na década de 1960.
Esta obra foi uma de seus primeiros
ensaios, não se pode entendê-la e nem submetê-la a críticas sem atrelá-la ao
contexto brasileiro entre os anos de 1960 e 1964.
Paulo Freire faz um julgamento à educação
tradicional no Brasil.
A educação na visão de Paulo Freire deve acontecer como prática da
liberdade. Os caminhos da liberdade criam sujeitos livres e a prática da
liberdade oportuniza a pedagogia em que o oprimido tenha condições de
conquistar-se e descobrir-se como sujeito de sua própria destinação histórica.
Quando pensamos em educação popular, aparecem em nossa mente as ideias de Paulo Freire, afinal, ele se dedicou por uma educação para a vida, por meio das ações pedagógicas pautada
na formação de um individuo participativo
na sociedade critico e criativo. Percebemos que é relevante observar que
o sujeito nesta educação é um individuo que não deve apenas "estar no mundo,
mas com o mundo", ou seja, fazer parte desta grande esfera,
não apenas vivendo, mas participando na construção de sua própria identidade contribuindo para o melhoramento de suas
condições como cidadão e buscando o direito de construir uma sociedade justa e
igualitária.
A melhor forma de ensinar, segundo Paulo Freire, é defender com o compromisso e amor, uma posição respeitando e estimulando
o direito da contrariedade do ser educando. Ensinando
assim o dever de lutar por suas próprias ideias.
Para Freire, o principal problema do homem não era ser alfabetizado, mas
sim fazer com que enquanto individuo ele assumisse sua dignidade. E desta
maneira defender sua própria cultura com a capacidade de fazer história e
dominar os instrumentos, como a leitura, capazes de modificar esta condição.
Nesta obra Paulo Freire reconhece no Brasil da época – e digamos atual -
uma ‘sociedade fechada” e uma “sociedade
aberta”. Diferente uma da outra, a segunda com espaço para opiniões, buscando uma
cultura livre, enquanto a primeira não permitia crítica ou diálogo a respeito
de mudanças. Havia ainda uma “sociedade de transição”, com uma consciência transitiva em processo de
libertação.
O modelo pedagógico neste ensaio de Paulo Freire aproxima a educação
como ação cultural de conscientização, envolvendo técnicas alfabetizadoras que
são adaptadas para melhorar projetos
onde a situação de aprendizagem envolve uma situação de
conflito social.
Neste modelo apresenta-se uma educação construída na base do diálogo
entre educador e educando, um completando o outro, sem que o educador imponha
seu modelo de ensino que segue apenas o material oferecido por ele em suas
aulas. Neste novo conceito, o novo modelo fundamenta-se na ideia de que ninguém
educa ninguém e ninguém se educa sozinho, palavras de Paulo Freire.
O processo de ensino e aprendizagem consiste em uma relação horizontal e
não vertical entre educador e educando. No pensamento de Paulo Freire a relação
homem-homem, mulher-mulher e homem-mundo não são separáveis. Este processo
valoriza o saber de todos. E o educador não fica limitado ao saber do aluno,
tendo como desafio ultrapassá-lo.
Paulo Freire revela uma linguagem
político-pedagógica, completamente progressista e renovadora para a época. Ele
ressalta o valor dos “conteúdos programáticos” que precisam ser escolhidos
democraticamente, inserido em uma proposta mais ampla de educar. Em
contraposição ao modelo tradicional escolar o autor comprova que os métodos em
que os alunos e professores aprendem juntos são mais eficazes.
É muito importante ressaltar o conceito de dialogo no pensamento de
Freire. O diálogo tem como conclusão o conhecimento sobre o objeto em questão. Declara ser impossível haver um dialogo sobre o que não se conheça.
O autor aborda uma questão muito original em relação a práxis educativa,
não como algo que é depositado por quem sabe sobre quem não sabe, mas sim
conscientizar o indivíduo de sua realidade vivenciada para terem capacidade de transformá-la.
A pedagogia proposta por Paulo Freire tem como objetivo um ensino
baseado no diálogo, na liberdade e na atividade de buscar o conhecimento, transformador
e participativo.
É uma educação disposta a considerar o indivíduo como sujeito de sua
própria aprendizagem e não um objeto sem resposta e sem saber. Deve ser valorizado o contexto social do
educando bem como seus conhecimentos prévios e sua forma de enxergar o mundo.
A transformação começa a partir do próprio educador e prossegue no
repasse ao educando até chegar à transformação coletiva. Em um nível intermediário,
a experiência precisa buscar outros sujeitos de histórias similares que vivem a
mesma experiência de libertação.
O sentido maior do compromisso é fazer-se sujeito e liberta-se participando de uma prática humanística. Para
ser sujeito é preciso desprender-se das próprias amarras e ousar voar para a
liberdade. A conquista da liberdade exige uma constante busca para que se possa
superar a opressão e conduzir o destino de seus atos.
Segundo Freire, o ensino não é apenas uma profissão mas uma missão que necessita saberes comprovados em seu processo dinâmico
de promoção da autonomia do ser de todos
os alunos.
As ideias disseminadas nesta obra são formadas a partir das diretrizes de mudanças na experiência de homens e mulheres
que puderam sentir a liberdade ao mesmo
tempo em que conquistavam o ato de leitura na escolaridade tardia.
Nas reflexões de Paulo Freire, tanto os alunos
quanto o professor são transformados em pesquisadores críticos. Os alunos não
são uma lata vazia para ser cheia pelo professor.
A liberdade é o ponto principal do seu conceito educativo e o ponto
final da educação centra-se na libertação. Assim, forma-se a visão ideológica
da sociedade e da função da educação. A educação deve permitir uma leitura crítica do mundo.
Afinal, o mundo que nos cerca é um mundo
inacabado e isso implica na denúncia da realidade opressora, portanto o anúncio
de outra realidade. A utopia estimula a busca. Ao denunciar a realidade vivida
teremos em mente a conquista de outra realidade, uma realidade desejada,
sonhada.
Com toda a certeza, Paulo Freire foi um educador militante e humanista
que buscou mostrar na sociedade a função da educação do ponto de vista do
oprimido, na construção de uma sociedade democrática ou sociedade aberta.
Paulo
Freire entende que é possível engajar a educação nesse processo de
conscientização e de movimento de massas.
Neste livro ele desenvolve o conceito de "consciência
transitiva crítica", ou uma consciência articulada na
prática. Segundo ele, para se chegar a esta consciência, ao mesmo tempo
desafiante e transformadora, são indispensáveis o diálogo com postura
filosófica crítica e a convivência.
A pedagogia de Paulo Freire está fundamentada em um
projeto de libertação dos oprimidos. Subsidiado por decisões de
atitudes filosóficas claras e definidas. O autor tem como proposta uma metodologia de ação. A partir
de cada experiência há uma preocupação de elaboração teórica, mas não a
construção de um sistema Os conceitos de Freire não uma obra sistemática, mas estabelecem situações
que conduzem sua proposta pedagógica.
"Não é
possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo,
torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se
a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda."
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se
a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela
tampouco a sociedade muda."
Paulo Freire
Imagens e frases disponíveis em : www.projetomemoria.art.br,
acesso em 05/06/2013
CRONOLOGIA
1921
Paulo Freire nasce em Recife, no dia 19 de setembro.
1927
Entra, já alfabetizado, para a escolinha particular da professora Eunice Vasconcelos.
1931
Mudança para Jaboatão dos Guararapes/PE.
1934
Morte do pai quando Paulo tinha 13 anos.
1937 a 1942
Cursa o Ensino Secundário no Colégio Osvaldo Cruz, do Recife, onde teve seu
primeiro emprego, tornando-se, em 1942, professor de língua portuguesa do
mesmo.
1943
Ingressa na Faculdade de Direito do Recife.
1947
Forma-se Bacharel em Direito.
1944
Casa-se com Elza Maia Costa de Oliveira.
1947
Assume a Diretoria da Divisão de Educação e Cultura, do Sesi-Pernambuco.
1952
Nomeado Professor Catedrático da Faculdade de Belas Artes, da Universidade do
Recife.
1954
Foi nomeado Diretor Superintendente do Departamento Regional de Pernambuco do
SESI-PE, cargo que ocupou até outubro de 1956.
1960
Defende tese e obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.
1961
Foi-lhe conferido o título de Livre Docente da Faculdade de Belas Artes. Tendo
perdido o cargo de docente desta Escola, foi nomeado Professor Assistente de
Ensino Superior, de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da
Universidade do Recife.
1962
Cria e foi o primeiro Diretor do Serviço de Extensão Cultural, da Universidade
do Recife.
1963
Realiza a Experiência de Alfabetização de Angicos/RN. Cria as bases do Programa
Nacional de Alfabetização, do Governo João Goulart.
1964
Golpe Militar extingue o Programa Nacional de Alfabetização.
Prisão no Recife.
Asilo na Embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro.
Em setembro parte para a Bolívia.
Em novembro segue para o Chile.
1965
Publica o livro Educação Como Prática da Liberdade.
1967 a
1968
Escreve no Chile o livro Pedagogia do Oprimido.
1969
Muda-se para Cambridge, Massachussetts, USA.
1970
Transfere-se para Genebra, Suíça, para trabalhar no Conselho Mundial das
Igrejas, passa a “andarilhar” pelos cinco continentes.
1971
Funda, com outros exilados, o Instituto de Ação Cultural (IDAC), em Genebra.
dedica-se de modo especial ao trabalho de educação em alguns países africanos.
1979
Obtém seu primeiro passaporte e visita São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
1980
Retorna ao Brasil, para lecionar na PUC/SP e na Unicamp.
1981
Participa da fundação do Vereda - Centro de Estudos em Educação, em São Paulo.
1982
Publica A importância do ato
de ler em três artigos que se completam, livro que mereceu, em julho de
1990, o “Diploma de Mérito Internacional”, concedido pela “International
Reading Assocition”, na Suécia.
Deste ano até 1992, escreve os “livros falados”, isto é, livros nos quais,
estimulado por outros educadores, narrava a sua vida e explicitava as suas
reflexões.
1986
Recebe o Prêmio UNESCO da Educação para a Paz.
No dia 24 de outubro morre sua primeira esposa, Elza Maia Costa de Oliveira.
1987
Passa a integrar o júri internacional da UNESCO, que escolhe e premia as
melhores experiências de alfabetização do mundo.
1988
No dia 27 de março, casa-se em cerimônia religiosa, no Recife, com Ana Maria
Araújo Hasche e, em 19 de agosto, em cerimônia civil, quando ela passa a
assinar Freire.
1989
Assume o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo.
1991
Afasta-se da SMEd-SP para escrever livros. Retorna a lecionar na PUC/SP. Demite-se
da UNICAMP.
1988 a 1997
Volta depois de 10 anos a escrever livros autorais: Pedagogia
da Esperança. Cartas a Cristina: reflexões sobre a minha vida e minha práxis.
Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Política e educação. À
sombra desta mangueira e Pedagogia da Autonomia, além de outros com
diversos educadores. e inúmeros artigos e conferências.
1997
Faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 02 de maio, vítima de
um infarto agudo do miocárdio. Deixou 5 filhos e viúva.
Paulo Freire participou durante a sua vida de fóruns e debates. Realizou milhares
de palestras e conferências. Deu pareceres sobre os mais diversos assuntos.
Concedeu entrevistas para jornais, revistas e televisão. Envolveu-se nos
movimentos sociais progressistas, entre muitas outras atividades como militante
e como intelectual. Recebeu prêmios, títulos e homenagens em todo o mundo,
entre estas 39 títulos de Doutor
HonorisCausa, dos quais 5 entregues à sua viúva.
A partir de 2000, a sua viúva Ana Maria Araújo Freire, na qualidade de
sucessora legal da obra de Paulo Freire, organizou seus textos inéditos,
nomeou-os e publicou na “Série Paulo Freire”, da qual é diretora: Pedagogia
da Indignação, Pedagogia dos Sonhos Possíveis e Pedagogia
da Tolerância.
Principais obras
1959:
Educação e atualidade brasileira.
Recife: Universidade Federal do Recife, 139p. (tese de concurso público para a
cadeira de História e Filosofia da Educação de Belas Artes de Pernambuco).
1961:
A propósito de uma administração.
Recife: Imprensa Universitária,.
1963:
Alfabetização e conscientização.
Porto Alegre: Editora Emma.
1967:
Educação como
prática da liberdade. Introdução de Francisco C. Weffort. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, (19 ed., 1989)
1968:
Educação e conscientização:
extencionismo rural. Cuernavaca (México): CIDOC/Cuaderno 25)
1970:
Pedagogia do oprimido. New York:
Herder & Herder, 1970 (manuscrito em português de 1968). Publicado com
Prefácio de Ernani Maria Fiori. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p., (23 ed.,
1994)
1971:
Extensão ou comunicação?.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971.
1976:
Ação cultural para a liberdade e outros
escritos. Tradução de Claudia Schilling, Buenos Aires: Tierra Nueva, 1975.
Publicado também no Rio de Janeiro, Paz e terra. (8. ed., 1987).
1977:
Cartas à Guiné-Bissau. Registros de uma
experiência em processo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (4 ed., 1984).
1978:
Os cristãos e a libertação dos oprimidos.
Lisboa: Edições BASE.
1979:
Consciência e história: a práxis
educativa de Paulo Freire (antologia). São Paulo: Loyola.
1979:
Multinacionais e trabalhadores no Brasil.
São Paulo: Brasiliense.
1980:
Conscientização: teoria e prática da
libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes.
1981:
Ideologia e educação: reflexões sobre a
não neutralidade da educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
1982:
A importância do ato de ler (em três
artigos que se completam). Prefácio de Antonio Joaquim Severino. São Paulo:
Cortez/ Autores Associados. (26. ed., 1991).
1982:
Sobre educação (Diálogos), Vol. 1.
Rio de Janeiro: Paz e Terra ( 3 ed., 1984), (Educação e comunicação, 9).
1982:
Educação popular. Lins (SP): Todos
Irmãos.
1985:
Por uma pedagogia da pergunta. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 3ª Edição
1986:
Fazer escola conhecendo a vida.
Papirus.
1987:
Aprendendo com a própria história
(com Sérgio Guimarães). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 168 p. (Educação e
Comunicação; v.19).
1988:
Na escola que fazemos: uma reflexão
interdisciplinar em educação popular. Vozes.
1989:
Que fazer: teoria e prática em educação
popular. Vozes.
1990:
Conversando com educadores.
Montevideo (Uruguai): Roca Viva.
1990:
Alfabetização - Leitura do mundo,
leitura da palavra (com Donaldo Macedo). Rio de Janeiro: Paz e Terra.
1991:
A educação na cidade. São Paulo: Cortez.
1991:
A Importância do Ato de Ler - em
três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora & Autores
Associados, 1991. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v 4)
1992:
Pedagogia da esperança: um reencontro
com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994)
1993:
Professora sim, tia não: cartas a quem
ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (6 ed. 1995)
1993:
Política e educação: ensaios. São
Paulo: Cortez.
1994:
Essa escola chamada vida. São Paulo:
Ática, 1985; 8ª edição.
1995:
À sombra desta mangueira.
São Paulo: Olho d'água.
1995:
Pedagogia: diálogo e conflito. São
Paulo: Editora Cortez.
1996:
Medo e ousadia. Prefácio de Ana
Maria Saul; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; 5ª Edição.
1996:
Pedagogia da Autonomia. Rio de
Janeiro: Paz e Terra.
2000:
Pedagogia da indignação
– cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP.
Grupo
Hadassa Melo de Almeida
Janiele Santos Pereira
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